O OLHO MÁGICO
Fonte da imagem: http://oglobo.globo.com/brasil/lixao-da-estrutural-17981833
Ainda estava escuro quando Pedro acordou. Sua mãe e a pequena irmã já
estavam de pé. Comiam algumas bolachas secas encontradas no dia anterior. Ele
sentou, esfregou os olhos e pôs-se a orar. Em geral fazia esse ritual sem
prestar muita atenção ao que dizia. Quase já não havia mais fé em seu coração.
Quando se tem apenas oito anos, vivendo em um grande e fétido aterro, é difícil
manter a fé. Mesmo assim gostava de rezar o Pai Nosso que o falecido pai lhe
ensinara. De alguma forma a presença do amigo podia ser sentida nesta pequena
parte da manhã. "Toma café, come a bulacha e vem, o caminhão já, já
chega". Ele atendeu à ordem da mãe e enquanto tomava café contemplava o
dia pela janela embaçada do barraco. No horizonte as imensas montanhas de lixo
em cujos cimos sobrevoavam dezenas de urubus.
De botas e luvas improvisadas Pedro apanhou seu saco e partiu para o encontro com o primeiro caminhão do dia. O sol já mostrava sua força dourando a fina pele do menino, esquentando sua cabeça e iluminando um cenário apocalíptico. Ao seu lado juntavam-se outros meninos, meninas, mulheres e homens, todos vestidos com grossos farrapos e botas que buscavam dar-lhes alguma proteção, mas que na verdade lhes emprestavam a aparência de um exército cabisbaixo e cansado.
De botas e luvas improvisadas Pedro apanhou seu saco e partiu para o encontro com o primeiro caminhão do dia. O sol já mostrava sua força dourando a fina pele do menino, esquentando sua cabeça e iluminando um cenário apocalíptico. Ao seu lado juntavam-se outros meninos, meninas, mulheres e homens, todos vestidos com grossos farrapos e botas que buscavam dar-lhes alguma proteção, mas que na verdade lhes emprestavam a aparência de um exército cabisbaixo e cansado.
Quando o caminhão chegou, seres humanos, pássaros, roedores e cães
vira-latas juntaram-se na busca frenética de encontrar algo de valor e, com
sorte, o que pudesse servir de comida. "Olha mãe, o que é isso?". A
mulher tomou das mãos da pequena menina um objeto metálico. Observou-o e jogou
fora. "Um olho mágico, besteira. Procura comida, anda!". De todas as
palavras que Pedro ouviu somente duas se fixaram em sua memória: olho mágico.
Como poderia ser? Isso existe mesmo? O garoto apanhou o objeto e após
manipulá-lo sem saber direito como usar, o encaixou no olho direito e mirou o
horizonte.
O olho o transportou para uma praia não muito longe dali. Em vez de
urubus, lindas gaivotas. As montanhas não eram de lixo, mas lisas e de um bege
reluzente e o mesmo sol que agora queimava sua pele iluminava o mais azul dos
mares. O olho era realmente mágico.
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